Levou Os Protagonistas à Galeria de Exposições Temporárias do Pavilhão de Angolana Expo 2020 Dubai. É um orgulho e uma responsabilidade?
Sem dúvida, ter a possibilidade de ser um dos artistas a representar o meu país na Expo Dubai 2022 é um privilégio, especialmente por ter a oportunidade de dar visibilidade à realidade dura de muitos jovens em Angola. A série de obras que apresento pela primeira vez nos Emirados Árabes Unidos aborda a vida de vários bairros. Cito dois aonde vivi: o Bairro Neves Bendinha ou Bairro Popular, em Luanda, e o Chibodo ou Bairro 4 de Abril, em Cabinda. São bairros onde algumas pessoas vivem em condições duras e onde há poucas oportunidades, mas onde, apesar disso, há muitos jovens que resistem à criminalidade, aceitando trabalhos informais que possam garantir a sua sobrevivência: lavar carros, transportar mercadorias, vender frutas na rua, etc. Tudo em prol da sua sobrevivência e da sustentabilidade das suas famílias. Para mim, estes jovens são uma inspiração, uma força da natureza. Um dia, gostaria de ter a possibilidade de apresentar esta série de pinturas noutros países e contextos, de partilhar essa visão de como uma realidade amarga se pode tornar numa enorme fonte de inspiração e numa lição sobre a vontade de perseverar e viver.
O Cristiano é um artista muito bem cotado internacionalmente em diversas e prestigiadas casas e galerias de arte. Sendo ainda tão novo, como olha para o seu percurso e o que espera ainda poder vir a alcançar enquanto profissional?
Ainda sou um jovem artista e tenho um longo caminho a percorrer. Mas o lugar que alcancei foi com enorme perseverança, dedicação, coragem, sacrifício e muito trabalho. Acredito que a minha positividade, aliada à disciplina, contribui para manter um certo equilíbrio na minha vida criativa e pessoal. Sinto que a arte contribui para um certo equilíbrio na minha alma. Apesar de todas as adversidades, sinto-me abençoado por ser artista. A arte corre-me nas veias. Por outro lado, também devo muito do meu sucesso às galerias que me representam, pois tiveram a coragem de apostar em mim e na minha obra, de a encaminhar e apresentar em lugares de prestígio e de respeito, fazendo com que a massa crítica reconheça um artista africano como um artista global. Contudo, neste meu caminho, aprendi igualmente a respeitar a criatividade dos outros. Quando me deparo com uma obra de outrem, não só a aprecio, como tenho, de igual modo, a capacidade de compreender os possíveis sacrifícios e o trabalho árduo necessário para que aquela obra possa estar naquele museu ou galeria. Assim, aproveito esta oportunidade para agradecer a todos os que confiam e contribuem para a visibilidade da minha obra, da visão que ela compreende, e para a minha realização criativa. Persisto no sonho de que um dia a minha obra possa ser colecionada e exibida em grandes museus, seja em Portugal, seja em Angola, seja no resto do mundo.