«Sabemos que a entrada de um membro numa organização é uma vantagem competitiva no cenário político-diplomático»
Que raízes portuguesas tem a Guiné Equatorial que a levaram a aderir à CPLP?
Esta pergunta é muito importante e simples de responder, pois só temos de recorrer à nossa memória histórica e, se ela não falhar, descobrimos que foram os portugueses os primeiros navegadores europeus que, em 1471, chegaram aos territórios que hoje constituem a República da Guiné Equatorial. Os portugueses foram os primeiros ibéricos e europeus a explorar o Golfo da Guiné. Foi o português Fernando Poo que inseriu a Ilha de Bioko nos mapas europeus, batizando-a com o nome de Formosa, mais tarde conhecida como a ilha de Fernando Poo. No ano seguinte, a 1 de janeiro de 1472, ele descobriu a Ilha de Pagalú (atual Ilha de Annobón), a que chamou Ilha do Annobom ou Ano Bom. Estas descobertas permitiram ao Rei João II de Portugal adicionar os títulos reais de Senhor da Guiné e do Primeiro Senhor de Corisco. Os portugueses colonizaram as ilhas de Bioko, Annobón e Corisco em 1494, que se transformaram em «fábricas» ou postos para o comércio de escravos. Quando a Companhia Holandesa das Índias Orientais foi estabelecida na Ilha de Bioko em 1641, sem o consentimento de Portugal, estes fizeram novamente uma aparição em 1648, substituindo esta empresa por uma própria, chamada Companhia de Corisco, dedicada ao mesmo tipo de comércio, e criando um dos primeiros edifícios europeus na ilha, o forte de Punta Joko, para o mesmo fim.
Esses territórios permaneceram em mãos portuguesas desde março de 1471, data da sua descoberta, até 1778, ou seja, trezentos e cinco anos (305 anos). Com a assinatura dos tratados de Santo Ildefonso (1777) e El Pardo (1778), Portugal cedeu as ilhas a Espanha, juntamente com os direitos de tráfico de escravos e de livre comércio, numa parte do território da costa do Golfo da Guiné, entre os rios Níger e Ogooué, bem como a disputada Colónia del Sacramento, no Uruguai, em troca da Ilha de Santa Catalina (sul do Brasil) mantida pelos espanhóis. A partir desse momento, o território espanhol da Guiné fez parte do Vice-Rei do Rio da Prata (fundado em 1776), até ao desmembramento definitivo deste com a Revolução de Maio (1810) em Buenos Aires. Creio que, resumindo, as chaves históricas que marcam a presença portuguesa de aproximadamente 305 anos são mais do que as dos 190 anos que marcam a presença do Reino de Espanha nos territórios que hoje fazem parte da República da Guiné Equatorial.
De que forma a entrada da Guiné Equatorial ajudou a cimentar a importância da CPLP no mundo?
Mais do que ajudar, sabemos que a entrada de um membro numa organização é uma vantagem competitiva no cenário político diplomático e, como é normal, ajuda na expansão das fronteiras território-marítimas, no espaço socioeconómico, cultural, político e estratégico da CPLP, o que resulta na melhoria das trocas e mobilidade das suas populações, tal como se pode ver na cúpula empresarial da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, organizada na cidade de Malabo, onde Sua Excelência, o Chefe de Estado e Governo da República da Guiné Equatorial, durante o seu discurso, propôs a construção de uma Zona Industrial na cidade de Bata e outras medidas que favorecem a dinâmica do setor empresarial da CPLP.
É nessa linha que a República da Guiné Equatorial também beneficia com a implementação de reformas para o desenvolvimento de um marco normativo para a adoção da língua portuguesa como língua oficial do Estado, o estabelecimento de infraestruturas básicas para uso generalizado no país, a promoção da transparência progressiva do conhecimento para o ensino e o plano de ação para a formação, promoção da língua portuguesa para os funcionários públicos, assinatura de Protocolos de Cooperação com o Instituto Internacional de Camões, o Protocolo de Cooperação para a promoção e difusão da língua e cultura portuguesas, a implantação da Escola Multilingue e a nomeação de um leitor na Universidade Nacional. Todas essas ações refletem o compromisso e as contribuições do Governo da República da Guiné Equatorial com a CPLP.